O que seria do
Batman sem Gothan City?
.(um guia para a construção
de cenários para contos, aventuras e lives)
A pergunta que não
quer calar não apenas demonstra admiração da lendária
cidade pelos fãs, como também a importância da construção
do cenário para o desenvolvimento de uma boa história. É
importante lembrar que não definimos como cenário apenas a arquitetura
das construções, as características do solo ou o clima
e a temperatura do ambiente em questão. Caracteriza-se como cenário
todo o plano de fundo que envolve a história, como o contexto social
vivido, as formas de comércio usadas no local, os fatos importantes
(sejam eles ligados ou não à história), localização
na linha do tempo (data exata ou estimada), cultura, etc, além dos
ítens já listados anteriormente (arquitetura, solo, ...).
Na metrópole do
homem morcego, as características de tensão e medo - geradas
pela grande atividade de assaltantes e assassinos paranóicos - completam
o panorama escuro e sombrio de Ghotan, com seus prédios altos em estilo
gótico e beicos sujos e escuros. Mesmo os bandidos, são obras
da discriminação e da inlolerância da sociedade. Esse
contexto justifica o surgimento e a eterna luta do Cavaleiro das Trevas. De
outra forma, ele seria visto como um criminoso e não como um paladino
do bem e da justiça. O exemplo é mais facilmente entendido se
lembrarmos dos longa-metragem feitos para o cinema recentemente, Batman I
- por Tim Burton -, e Batiman e Robin - por Joe Schumacher. No último,
Gothan City se mostra como uma cidade rosa e sofisticada, transformando o
homen morcego em um personagem "teen", facilmente tragado pela nova
geração; caso diferente acontece com o filme de Tim Burton,
que levou cenas mais fortes e sombrias para a "telona", bem mais
próximo do universo que cerca Bruce Wayne.
Não derrapando
do assunto original, surge uma indagação: como incrementar todos
esses elementos? Muitas pessoas deixam de escrever por se acharem incapazes
de inventar uma cadeia de fatos realmente interessante. A principal dica é
não pensar na história de forma linear. É preciso pensar
nos elementos separadamente, ter certeza do rumo que se quer que a história
siga e obedecer o contexto criado, para evitar erros de sequência. A
seguir, listo alguns ítens importantes a serem considerados:
- Idéia: antes
de mais nada, é preciso saber o que se quer alcançar com o
texto. Qual é a sua inspiração no momento? Terror,
suspense, romance, aventura, tragédia, comédia? É importante
definir isso muito bem, pois será o combustível para todas
as decisões futuras.
- Linha do tempo: Sabendo
a idéia principal, basta seguir o que a inspiração
inicial trouxe à tona para definir uma localização
no tempo que melhor represente tal intento. Histórias de terror são
muito bem situadas no século XVIII, bravas aventuras na idade média
e tórridos romances na atualidade, embora as vezes pode-se fazer
o contrário do conceito, e situar uma história de terror num
futuro tecnológico, por exemplo, deixando que outros elementos (que
veremos a seguir) guiem os rumos e traga a inspiração inicial
para o foco principal.
- Pesquisa: é
importante conhecer as características do período escolhido
para ter uma história convincente. Não importa se a história
seja de cunho fantasioso ou realista. Quanto maior for o material à
sua disposição, mais consistente será sua composição.
Além da arquitetura, língua falada, estação
do ano e características do ambiente, tenha em mente fatos acontecidos.
Eles podem se ligar com a história que está se desenvolvendo
ou serem usados apenas para preencher o cenário, trazendo preocupação
e/ou euforia para os personagens envolvidos. É uma ótima técnica
para trazer realismo à história e conseguir uma maior identificação
dos personagens principais por parte de quem recebe a história. Filmes,
livros, peças de teatro, conversas com o avô, são
excelentes fontes de pesquisa.
- Personagens de apoio:
existem personagens que não se envolverão diretamente com
a trama, ou talvez sequer sejam usados, mas que podem e devem ser criados
para uma eventual necessidade, principalmente no caso de um jogo de RPG
(mas não menos importante para um conto, romance, ou outro tipo qualquer
de história). Compor as características psicológicas
deles com os ítens descritos anteriormente pode ser muito divertido
e gratificante, aliando determinadas funções à eles,
exemplo: John, o garoto misterioso; Pedro, o padeiro informado; Raquel,
a fofoqueira mentirosa; Gordon, o jornaleiro confiável; etc. É
bom fazer um estudo de arquétipos de personalidade para melhor compô-los.
- Elementos Extras:
O local onde se desenvolve a história possue um porto? Uma loja de
doces? Uma cantina famosa? Uma discoteca? É importante pensar nesses
detalhes (tendo em mente todos os outros ítens acima) antes de começar
a por a "mão na massa". No caso de uma aventura de RPG,
não espere os jogadores perguntarem "Tem uma banca de jornal?...",
pois se a resposta for positiva eles terão a impressão de
que qualquer coisa que pedirem estará ao alcance deles. Para não
dar a impressão errada, apresente à eles todos os elementos
extras no início do jogo, pode ser até em forma de dissertação,
dando leves indicações de todo o panorama, pois jogadores
experiêntes acabam não seguindo a história e procurando
os elementos indicados no início da aventura para acelerar o sucesso
deles no jogo.
- Pergunte sempre para
a história. Pode parecer estranho, mas ela sempre te responde. Para
encontrar os "buracos" nela, faça suposições
e pergunte o porquê das coisas acontecerem conforme
você planejou. Ex.: Por quê a rainha não queria ser encontrada?
Por quê as ruas sempre estão vazias? Por quê as pessoas
tem tanto medo do dono do casarão amarelo? Procure responder as perguntas
que forem surgindo envolvido pela inspiração inicial, pelo
contexto socio-cultural que inventou, pelo clima, ou seja, por todos os
elementos pensados anteriormente, pois terá respostas significativas
e verdadeiras. Quem é dependente da arte de escrever costuma dizer
que não é o escritor que conduz a história e sim o
contrário. Essa é uma máxima que pode ser observada
neste ítem e, sempre que isso acontece, o resultado final é
uma história realmente forte e que ecoará por todos os lugares
que for apresentada.
Lembre-se, são
dicas importantes para a construção do plano de fundo da sua
história, mas é claro que existem outros detalhes e técnicas
que não estão sendo abordadas neste artigo. Outra coisa importante,
é procurar desenvolver um toque pessoal, algo que seja sua marca
registrada e que, sendo inconfundível, imortalize seu trabalho (como
a eterna luta do Batman, na fascinante Gothan City).
Confrade
Godoy