A Ordem dos Templários

Dos misteriosos guardiões do Santo Graal na ópera Parsival, de Wagner, ao demoníaco anti-herói de Brian de Bois-Guilbert em Ivanhoé, de Walter Scott, os Cavaleiros do Templo de Salomão têm sido uma fonte duradoura de fascínio na imaginação contemporânea.

Quem eram os Templários? Quem ou o quê estava por trás de seu poder? O que causou sua ruína? O objetivo deste texto é tentar desvendar um pouco do mistério que envolve a história desta tão interessante Ordem religiosa.

 


1 - Da Criação da Ordem

Desde que foi conquistada pelos cristãos na Primeira Cruzada em 1099, Jerusalém passou a receber um grande número de peregrinos, sendo que nem todos vinham armados. A longa distancia, aliada as dificuldades do trajeto, mais o descontentamento dos muçulmanos diante da situação faziam da viagem uma empreitada muito pouco segura.

Em 1114, Hugo de Payns senhor do feudo de Montigny e administrador da casa do conde Hugo de Champagne, esteve em Jerusalém, acompanhando seu senhor, que retornava à Cidade Santa pela segunda vez. Não se sabe ao certo se Hugo de Payns tinha vindo junto ao Conde de Champagne na primeira viagem deste à Jerusalém, mas o certo é que quando este retornou à Europa, seu vassalo preferiu ficar.

Junto de outro cavaleiro chamado Godofredo de Saint-Omer, Hugo de Payns propôs ao então rei de Jerusalém, Balduíno de Le Bourg e ao patriarca Warmund de Picquigny a organização de uma comunidade de cavaleiros que seguiria a regra de uma ordem religiosa, mas se devotaria a proteção dos peregrinos. A regra que tinham em mente era de Agostinho de Hipona, seguida pelos cônegos do Santo Sepulcro em Jerusalém.

A proposta foi aceita pelo rei e pelo patriarca, e no dia do Natal de 1119, Hugo de Payns e outros oito cavaleiros, entre eles Godofredo de Saint-Omer, Payen de Montdidier, Geoffroy Bissot e um cavaleiro chamado Rossal, ou possivelmente Rolando, fizeram os votos de pobreza, castidade e obediência perante o patriarca na Igreja do Santo Sepulcro. Deram a si mesmos o nome de "Os Pobres Soldados de Jesus Cristos" e a principio não usavam hábitos que os distinguissem, e sim os trajes de sua profissão secular.

A fim de proporcionar-lhes uma renda, o patriarca e o rei deram a eles uma série de benefícios. O Rei Balduíno II também lhes concedeu um lugar para viver, encontrando espaço no palácio em que transformara a mesquita de al-Aqsa, na borda sul do monte do Templo, conhecido pelos cruzados como o Templum Salomonis - o Templo de Salomão.
Em conseqüência disso, eles vieram a ser conhecidos como "Os Pobres Soldados de Jesus Cristo e do templo de Salomão", "Os Cavaleiros do Templo de Salomão", "Os Cavaleiros Do Templo", "Os Templários" ou simplesmente "O Templo".

Em janeiro de 1129, Hugo compareceu perante o concílio da Igreja reunido em Troyes. Lá ele descreveu sua Ordem e apresentou sua regra. A despeito da prévia sanção do patriarca em Jerusalém, a aprovação não foi obtida prontamente, visto que havia dúvidas no espírito de alguns eminentes sacerdotes acerca da moralidade da guerra. No entanto, graças ao grande apoio de Bernardo de Clairvaux, posteriormente conhecido como São Bernardo, a Ordem acabou por fim a ser aprovada pelo concílio e logo em seguida pelo Papa Honório II.

 

2 - Das Normas e Costumes da Ordem

A despeito de ser uma ordem formada por ex-cavaleiros seculares, as regras que regiam os Templários eram tão austeras quanto as demais ordens da época. Após a aprovação de sua existência pela Igreja, a Ordem passou a instituir a cada cavaleiro do Templo a obrigatoriedade de se usar hábitos brancos, que seriam utilizados apenas pelos cavaleiros de profissão plena, de forma que "aqueles que renunciaram à vida de trevas reconheçam uns aos outros como tendo sido reconciliados com o seu criador pelo símbolo de seus hábitos brancos, que significam pureza e castidade absoluta".

O celibato também era condição fundamental para ingressar à Ordem, pois se acreditava que "a castidade é a convicção do coração e a sanidade do corpo. Pois se um irmão não fizer o voto de castidade ele não poderá alcançar o descanso eterno nem poderá ver Deus, conforme a promessa do apóstolo que disse (...) "Esforçai-vos para levar a paz a todos, conservai-vos castos, sem o que ninguém pode ver Deus"."

Seguindo as regras de Bento de Núrsia, os dormitórios de cada cavaleiro deveriam permanecer iluminados até o amanhecer e os templários deveriam dormir com camisas e calções, sapatos e cintos. Essas medidas eram tomadas talvez para capacita-los a lutar em pouco tempo, bem como precaução para outras formas de pecado sexual.

Os cabelos dos templários deveriam manter-se sempre curtos e lhes era proibido cortar a barba. O vestuário de todos era igual e não eram permitidas variações de acordo com a moda.

Como os monges das demais ordens religiosas, os Templários deviam permanecer em silêncio enquanto comiam. Devido à suas funções como combatentes, lhes era permitido comer carne três vezes por semana, diferentes de seus colegas cistercienses, que nunca ingeriam carne, pois diziam que o hábito de comer carne corrompe o corpo. Os "Pobres Soldados" tinham de jejuar as sextas-feiras e durante os seis meses entre Todos os Santos e a Páscoa deviam consumir uma quantidade mínima de alimentos. Os doentes estavam isentos do jejum.

Os irmãos deviam evitar frivolidade em suas conversas. Palavras vãs e gargalhadas pecaminosas eram mal-vistas. Eles tampouco podiam vangloriar de seus feitos passados: "Nós proibimos e impedimos com firmeza qualquer irmão de narrar a outro ou a qualquer pessoa os atos de bravura por ele praticados na vida secular, os quais deveriam antes ser chamados disparates cometidos na execução dos deveres de um cavaleiro, e os prazeres da carne que ele teve com mulheres imorais".

Dentre as regras do modo de vida dos Templários, poucos artigos se referem ao treinamento: esperava-se que um cavaleiro fosse experiente em combate a cavalo antes de entrar para a Ordem. Devido ao peso do equipamento de combate, cada qual deve ter sido imensamente forte. Também se esperava que cada cavaleiro trouxesse seu próprio cavalo e equipamento. Fiéis ao espírito de Bernardo de Clairvaux , selas e rédeas não podiam ser adornadas.

Continua na próxima atualização...

Fontes:

- READ, Piers Paul, "Os Templários", 2001, Editora Imago.
- Site http://intermega.globo.com/magodasletras

 

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